David e Raquel estão voando em direção à Austrália, para umas férias de quinze dias em comemoração aos seus quarenta anos de casamento.
De repente, a voz do Comandante irrompe nos alto-falantes:
— Senhores passageiros, lamento informá-los que temos más notícias. Nossos aparelhos pararam de funcionar, e tentaremos um pouso de emergência.
Entre os passageiros, murmúrios, gritos, lamentações, choros.
O Comandante acrescenta:
— Felizmente, vejo abaixo de nós uma pequena ilha que não consta dos mapas geográficos, e creio que conseguiremos aterrissar na praia.
Alívio misturado com apreensão entre os passageiros.
E o Comandante prossegue:
— O maior problema, no entanto, é que talvez jamais sejamos resgatados, e que tenhamos que morar nessa ilha pelo resto de nossas vidas!...
Os passageiros aos poucos substituem as exclamações por orações ou silêncio.
Graças à destreza da tripulação, o avião pousa com segurança na ilha. Os passageiros desembarcam, atônitos.
Uma hоrа depois, David, ainda abalado, se vira para sua esposa e pergunta:
— Raquel, me diga uma coisa... Nós pagamos nossa contribuição de caridade para a Sinagoga Beth Shalom este mês?
— Não, querido - ela responde.
— Lamento tanto!... Deixei para depois da volta...
David então pergunta:
— Raquel, nós pagamos nossa contribuição para a Campanha da União Judaica?
— Ih, não, David, me descuple!... Me esqueci de mandar o cheque!...
— Uma última coisa, Raquel... Você se lembrou de enviar um cheque para o Fundo de Construção de Sinagogas este mês?
— Oh, não, perdoe-me outra vez, querido!...
Me esqueci disso também...
Então subitamente David agarra Raquel e lhe dá o beijo mais ardente em quarenta anos de vida conjugal.
Raquel, muito surpresa, consegue se desvencilhar e pergunta:
— Por que isso agora, David?
David responde, com um brilho nos olhos:
— Eles vão nos encontrar.