Antigamente o cinema no interior do Nordeste brasileiro era assim: um salão vazio com uma das paredes pintada de branco para a projeção. Não tinha poltronas, levava-se um tamburete de casa para assistir ao filme sentado, senão assistia de pé. Só existia um filme naquela época: Paixão de Cristo. Aí um matuto foi com sua mulher ao cinema assistir ao filme. Ele nunca havia entrado num cinema na sua vida. Quando chegou na cena da via sacra, aquela em que Jesus é agredido a chicotadas e todos no cinema danavam-se a chorar.
— Meu Deus! Por que essa maldade com o rapaz!!
— Ele é uma pessoa tão bondosa!!
E a mulher do matuto também danava-se a chorar. Daí o matuto, vendo aquela cena toda no cinema, se levantou com seu 38 na mão e gritou:
— Cumé que podi! Ó homi apanha e ninguém faz nada?
PAPAPAPAPAPAPAPAPAPA na tela do cinema! Saiu todo mundo correndo pelas janelas e foi tamburete pra todo lado! Depois desse dia o cinema passou um ano interditado, até que chegou um empresário da cidade grande e abriu o cinema denovo, inclusive lançou um carro de som, que era a maior novidade na região: uma rural com um megafone em cima cujo locutor anunciava:
— Neste "sabu" não "perda"! A Paixão de Cristo, "O RETORNO"!
(O retorno de Cristo?!!??!?! Eu heim!?!) Aí a mulher do matuto convidou-o a ir novamente no cinema, ao que ele respondeu:
— Nem venha!! Da última vêz você lembra a cunfusão que deu, não lembra?
Mas ela insistiu, insistiu e conseguiu convercê-lo a ir ao cinema. Chegando lá o matuto:
— Se chorar, mato você de aperto!!
Começa o filme até que chega na via sacra. E a platéia aos prantos:
— Ó Deus! Um rapaz tão bom!
— Por que tão fazendo isso com o coitado!!
Aí a mulher do matuto dá dois fungados:
— Chuif, chuif!
O matuto de agarra no "cangote" dela e diz furioso:
— Num chore não, muié! Num chore não pruque esse homi sabia que ia apanhar, ele veiu pru que quis!!