Em 1950, a conversa entre aquele pai e aquela filha, seria mais ou menos assim:
— A bênção, papai.
— Deus te abençõe Maria Elvira..
— Papai, eu queria falar uma coisa com o senhor...
— Pode falar, minha filha.
— É que... o Leleco me pediu em namoro.
— Leleco?
— O nome dele é Leonardo da Silva.
— Onde vocês se conheceram?
— Num baile de debutantes.
— E o que faz esse Leonardo? Ele e engenheiro, médico ou advogado?
— Centroavante.
— Centroavante? Isso é galhofa, não é, Maria Elvira?
— Não, Papai.
— Era so o que me faltava, minha filha com um centroavante! É para isso que eu paguei seu curso de magistério?
— Mas, papai...
— Nem mais nem menos! Essa gente do futebol é muito irresponsável! E depois, se ele te abandonar? Você quer virar uma desquitada?
— Mas, papai...
— Não, não e não, Maria Elvira! Filha minha não casa com jogador de futebol.
— Mas...
— Centroavante, essa é boa! O que vai ser da próxima vez, um pagodeiro?
Já em 2000, as coisas seriam um pouco diferente:
— Oi, paps.
— Oi, Taina.
— Paps, fui pedida em casamento.
— Sério?
— É, e desta vez por um rapaz.
— Quem diria...
— Ele se chama Leleco. Leleco da Silva.
— Onde vocês se conheceram?
— Num baile funk.
— E o que ele faz? É publicitário, banqueiro ou economista do governo?
— É centroavante.
— Centroavante? Que maravilha, Taina! Valeu a pena todo aquele dinheiro que você gastou com tintura no cabelo.
— Eu não disse que eles preferem as loiras?
— E quando vai ser o casamento?
— Xi, paps, era sobre isso que eu queria falar. Não sei se aceito. Jogador de futebol é meio, sei lá, irresponsável... Vai que não dá certo?
— Aí você pede o divórcio e ganha uma boa pensão para o resto da vida.
— Mas paps...
— Não, não e não, Taina. Filha minha não perde uma chance dessas.
— Mas...
— Já chega aquele pagodeiro que você esnobou!!!