Imagine a cena: Favela da Rocinha, um dia de sol quente. Tres homens entram em um pequeno barraco, quente e úmido, arrastando um rapaz pequeno e franzino pelos braços. Lá dentro está um crioulo enorme, de nome PAULÃO, muito suado, com cara de enjoado, com um palito no canto da bôca e limpando as unhas com um facão de cortar côco. Um dos homens diz:
— Paulão, o chefe mandou você dar uma "enrabadinha"
Nesse cara aí! Disse que é para ele aprender a não se meter a valente com o pessoal da favela.
— Pode deixar ele aí no cantinho que eu cuido dele daqui a pouco, disse o Paulão.
Cinco minutos depois, chegam mais dois homens arrastando um outro e vão logo dizendo para o Paulão:
— O chefe mandou você cortar as duas mãos e furar os dois olhos desse aí, para ele aprender a não roubar o dinheiro das bôcas de fumo e nem botar olho grande no que é dos outros.
— Deixa ele ali no cantinho que eu já resolvo o problema dele - falou o Paulão com a voz grave.
Pouco depois, chegam novamente mais tres homens, arrastando um outro pobre coitado.
— Paulão, o chefe disse que é para você cortar o "pinto" desse cara e enfiar na bôca dele, para ele aprender a não se meter com a mulher do chefe. Ah!
Ele falou ainda que era bom cortar também a língua dele e todos os dedos das mãos, para não haver a menor possibilidade dele vir a bolinar mulher alguma, tá bom?
— Resolvo já o problema dele. Mande aguardar lá naquele cantinho. - Falou o Paulão com a voz ainda mais grave.
Nisso, o primeiro rapaz que foi entregue aos cuidados do Paulão pediu licença para falar e disse:
— Seu Paulão, seu Paulão! Com todo o respeito, pois eu sei que vossa senhoria é um homem muito ocupado, e eu estou vendo que tem muito serviço para o senhor, não é mesmo? Eu queria só lhe lembrar, para o senhor não confundir, que o meu caso é só uma "enrabadinha", viu?